Conhecimentos e atitudes de cirurgiões-dentistas da rede pública de Pelotas-RS frente aos maus-tratos infantis

Autores

  • Giulia Tarquinio Demarco Programa de Pós-Graduação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Ivam da Silva-Júnior
  • Marina Sousa Azevedo Programa de Pós-graduação em Odontologia/Universidade Federal de Pelotas https://orcid.org/0000-0002-7519-6808

DOI:

https://doi.org/10.30979/revabeno.v21i1.1077

Palavras-chave:

Maus-tratos Infantis, Violência, Odontologia Legal, Educação em Odontologia.

Resumo

O presente estudo objetivou identificar e analisar os conhecimentos e as atitudes dos cirurgiões-dentistas (CD) da rede pública de Pelotas-RS frente aos maus-tratos infantis (MTI). Os dados foram coletados por um questionário semiestruturado. Coletaram-se informações sociodemográficas, relativas ao trabalho, conhecimentos e atitudes dos CD. Realizou-se uma análise estatística descritiva e associações entre as variáveis independentes com os conhecimentos e atitudes por meio do teste de Exato de Fisher e Qui-quadrado (p<0,05). Dos 45 CD incluídos na amostra, mais da metade afirmaram nunca ter recebido informações sobre o tema, 71,1% entenderam ser responsabilidade do CD a identificação de casos suspeitos, 50% não souberam informar a respeito da implicação legal sobre a falta de notificação e 86,7% acreditaram que se deve avisar ao médico ou enfermeiro para que eles tomem alguma atitude. Observou-se que 60% dos profissionais nunca suspeitaram de um caso e 25% dos que suspeitaram tomaram alguma atitude. Houve associação estatística entre a responsabilidade do CD e o sexo e o tempo de formação, da atitude correta frente a um caso suspeito e a pós-graduação, e ainda, da implicação legal com a idade e tempo de formação. Os conhecimentos e atitudes dos CD sobre MTI foram melhores entre profissionais mais jovens, do sexo feminino, com menor tempo de formados, possuindo ou cursando alguma pós-graduação. Os CD conhecem sua importância frente a essa violência, porém apresentam dificuldades quanto às atitudes a tomar.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

(1) Brasil. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Brasília: Presidência da República; 1990; [Acesso em: 20 de março de 2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l8069.htm.

(2) da Silva-Junior IF, Hartwig AD, Demarco GT, Stuermer VM, Scobernatti G, Goettems ML, Azevedo MS. Health-related quality of life of maltreated children and adolescents who attended a service center in Brazil. Qual Life Res. 2018;27(8):2157-64.

(3) Cavalcanti AL. Prevalence and characteristics of injuries to the head and orofacial region in physically abused children and adolescents--a retrospective study in a city of the Northeast of Brazil. Dent Traumatol. 2010;26(2):149-53.

(4) da Silva-Junior IF, Hartwig AD, Stuermer VM, Demarco GT, Goettems ML, Azevedo MS. Oral health-related quality of life in Brazilian child abuse victims: A comparative study. Child Abuse Negl. 2018;76:452-8.

(5) Leeb R, Paulozzi L, Melanson C, Simon T, Arias I. Child Maltreatment Surveillance: Uniform Definitions for Public Healthand Recommended Data Elements Version 1.0 ed. Atlanta: National Center for Injury Prevention and Control; 2008.

(6) da Silva Franzin LC, Olandovski M, Vettorazzi ML, Werneck RI, Moyses SJ, Kusma SZ, Moyses ST. Child and adolescent abuse and neglect in the city of Curitiba, Brazil. Child Abuse Negl. 2014;38(10):1706-14.

(7) Massoni AC, Ferreira AM, Aragao AK, de Menezes VA, Colares V. Aspectos orofaciais dos maus-tratos infantis e da negligência odontológica. Cien Saude Colet. 2010;15(2):403-10.

(8) Clarke L, Chana P, Nazzal H, Barry S. Experience of and barriers to reporting child safeguarding concerns among general dental practitioners across Greater Manchester. Br Dent J. 2019;227(5):387-91.

(9) Sousa GFP, Carvalho MMP, Grainville-Garcia AF, Gomes MNC, Ferreira JMS. Conhecimento de acadêmicos em odontologia sobre maus-tratos infantis. Odonto. 2012;20(40):101-8.

(10) Yehuda Y, Attar-Schwartz S, Ziv A, Jedwab M, Benbenishty R. Child abuse and neglect: reporting by health professionals and their need for training. Isr Med Assoc J. 2010;12(10):598-602.

(11) Brasil. Notificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes pelos profissionais de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2002; [Acesso em: 19 de março de 2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/notificacao_maustratos_criancas_adolescentes.pdf.

(12) Garbin CA, Dias Ide A, Rovida TA, Garbin AJ. Desafios do profissional de saúde na notificação da violência: obrigatoriedade, efetivação e encaminhamento. Cien Saude Colet. 2015;20(6):1879-90.

(13) Garcia L, Maio I, Santos T, Folha C, Watanabe H. Intersetorialidade na saúde no Brasil no início do século XXI: um retrato das experiências. Saúde Debate. 2014;38(103):966-80.

(14) Maia JN, Ferrari RAP, Gabani FL, Tacla MTGM, Reis TB, Fernandes MLC. Violência contra criança: cotidiano de profissionais na atenção primária à saúde. Rev Rene. 2016;17(5):593-601.

(15) Matos FZ, Borges AH, Neto IM, Rezende CD, Silva KL, Pedro FLM, Porto AN. Avaliação do conhecimento dos alunos de graduação em odontologia x cirurgião dentista no diagnóstico de maus-tratos a crianças. Rev Odontol Bras Central. 2013;22(63).

(16) Cavalcanti AL, Martins VM. Percepções e Conhecimentos de Médicos Pediatras e Cirurgiões-Dentistas Sobre Maus-Tratos Infantis. RBCS. 2009;13(3):41-8.

(17) Santos J, Yakuma M. A Estratégia Saúde da Família frente à violência contra crianças: revisão integrativa. Revista da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras. 2015;15(1):38-43.

(18) Nikolic S, Zivkovic V. Child maltreatment and neglect, or poverty and ignorance: An old case from the museum. Med Sci Law. 2016;56(2):150-3.

(19) Schwab-Reese LM, Hovdestad W, Tonmyr L, Fluke J. The potential use of social media and other internet-related data and communications for child maltreatment surveillance and epidemiological research: Scoping review and recommendations. Child Abuse Negl. 2018;85:187-201.

(20) Brasil. Resolução CNE/CES 3, de 19 de fevereiro de 2002: Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia. Brasília: Conselho Nacional de Educação; 2002; [Acesso em: 22 de março de 2021]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/ arquivos/pdf/CES032002.pdf.

(21) Silva KBG, Cavalcanti AFC, Cavalcanti AL. Maus-tratos infantis: conhecimentos e condutas dos cirurgiões-dentistas da Estratégia Saúde da Família de Guarabira-PB, Brasil. REFACS. 2017;5(1):108-17.

(22) Fracon ET, Silva RHA, Bregagnolo JC. Avaliação da conduta do cirurgião-dentista ante a violência doméstica contra crianças e adolescentes no município de Cravinhos (SP). RSBO. 2011;8(2):153-9.

(23) Massoni ACLT, Almeida MANF, Martins CG, Firmino RT, Grainville-Garcia AF. Maus-tratos na infância e adolescência: conhecimento e atitude de profissionais de saúde. Arq Odontol. 2014;50(2):71-7.

(24) Moura AR, Amorim A, Proença L, Milagre V. Dentists and undergraduate dental students require more information relating to child abuse. MedicalExpress. 2015;2(2).

(25) Koifman L, Menezes RM, Bohrer KR. Abordagem do Tema “Violência contra a Criança” no Curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense. Rev Bras Educ Med. 2012;36(2):172-9.

(26) Condori PLP, Nascimento SCL, Mitie ABD, Pizzato E, Mazza VA, Buffon MCM. Maus-tratos na infância e adolescência: percepção e conduta de profissionais de nível superior que atuam na Estratégia Saúde da Família. RSBO. 2018;15(1):34-40.

(27) Al Hajeri H, Al Halabi M, Kowash M, Khamis AH, Welbury R, Hussein I. Assessment of the knowledge of United Arab Emirates dentists of Child Maltreatment, protection and safeguarding. Eur J Paediatr Dent. 2018;19(2):105-18.

(28) Brattabo IV, Bjorknes R, Breivik K, Astrom AN. Explaining the intention of dental health personnel to report suspected child maltreatment using a reasoned action approach. BMC Health Serv Res. 2019;19(1):507.

(29) Jakobsen U, Fjallheim AS, Gislason H, Gudmundsen E, Poulsen S, Haubek D. Dental professionals' experience with and handling of suspicion of child maltreatment in a small-scale society, the Faroe Islands. Clin Exp Dent Res. 2019;5(2):145-50. Epub 2019/05/03.

(30) Biss S, Duda J, Tomazinho P, Pizzatto E, Losso E. Maus tratos infantis: avaliação do currículo dos cursos em odontologia. Revista da ABENO. 2015;15(1):55-62.

(31) Ivanoff C, Hottel T. Comprehensive Training in Suspected Child Abuse and Neglect for Dental Students: A Hybrid Curriculum. Journal of Dental Education. 2013;77(6):695-705.

(32) Azevedo MS, Goettems ML, Brito A, Possebon AP, Domingues J, Demarco FF, Torriani DD. Child maltreatment: a survey of dentists in southern Brazil. Braz Oral Res. 2012;26(1):5-11.

(33) Silva-Oliveira F, Andrade CI, Guimaraes MO, Ferreira RC, Ferreira EF, Zarzar PM. Recognition of child physical abuse by a group of Brazilian primary care health professionals. Int J Paediatr Dent. 2019;29(5):624-34. Epub 2019/05/10.

(34) Silva-Oliveira F, Ferreira e Ferreira E, Mattos Fde F, Ribeiro MT, Cota LO, Vale MP, Zarzar PM. Adaptação transcultural e reprodutibilidade de questionario para avaliação de conhecimento e atitude de profissionais de saude frente a casos de abuso fisico infantil. Cien Saude Colet. 2014;19(3):917-29.

(35) Silva-Oliveira F, Andrade CI, Guimaraes MO, Ferreira RC, Ferreira e Ferreira E, Zarzar PM. Frequência de identificação e notificação de abuso físico infantil por profissionais da Estratégia Saúde da Família e relação com fatores socioeconômicos. Arq Odontol. 2017;53(9).

(36) Ronneberg A, Nordgarden H, Skaare AB, Willumsen T. Barriers and factors influencing communication between dental professionals and Child Welfare Services in their everyday work. Int J Paediatr Dent. 2019;29(6):684-91.

(37) Garbin CA, Rovida TA, Costa AA, Garbin AJ. Percepção e atitude do cirurgião-dentista servidor público frente à violência intrafamiliar em 24 municípios do interior do estado São Paulo, 2013-2014. Epidemiol Serv Saúde. 2016;25(1):179-86.

(38) Luna GL, Ferreira RC, Vieira LJ. Notificação de maus-tratos em crianças e adolescentes por profissionais da Equipe Saúde da Familia. Cien Saude Colet. 2010;15(2):481-91.

(39) Algeri S, Souza LM. Violência Contra Crianças E Adolescentes: Um Desafio No Cotidiano Da Equipe De Enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006;14(4).

(40) Moreira GAR, Rolim ACA, Saintrain MVL, Vieira LJES. Atuação do cirurgião-dentista na identificação de maus-tratos contra crianças e adolescentes na atenção primária. Saúde Debate. 2015;39:257-67.

(41) Brasil. Educação Permanente em Saúde: Reconhecer a produção local de cotidianos de saúde e ativar práticas colaborativas de aprendizagem e de entrelaçamento de saberes. Brasília: Ministério da Saúde; 2014; [Acesso em: 23 de março de 2021]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/folder/educacao_permanente_saude.pdf.

(42) McKay JC, Quinonez CR. The feminization of dentistry: implications for the profession. J Can Dent Assoc. 2012;78:c1.

(43) Kfouri MG, Moyses SJ, Moyses ST. Women's motivation to become dentists in Brazil. J Dent Educ. 2013;77(6):810-6.

Publicado

24-12-2021

Como Citar

Demarco, G. T., Silva-Júnior, I. da, & Azevedo, M. S. (2021). Conhecimentos e atitudes de cirurgiões-dentistas da rede pública de Pelotas-RS frente aos maus-tratos infantis. Revista Da ABENO, 21(1), 1077. https://doi.org/10.30979/revabeno.v21i1.1077

Edição

Seção

Artigos